Quando aparece um problema novo é preciso arrancar com novas ideias. Na maneira como trabalho ponho logo hipóteses. Umas mesmo para deitar fora, quase disparatadas, mas é uma maneira de abrir o leque de consideração daquele problema. É uma maneira de evitar o prefabricado. O desenho, o esquisso, permite muito rapidamente dar um giro pelas hipóteses que existem para resolver o problema, de uma forma ainda não sólida. Outros aspetos têm de ser amadurecidos, como de programa, de relação com quem promove o projeto, de estudo, de análise. Pode chamar-se a tudo isto angústia, embora seja um pouco exagerado, porque sabemos que vamos resolver o problema, melhor ou pior. Assim como o escritor sabe que vai escrever o livro. A angústia é um pouco romancear a situação. Não é um bloqueio. Será antes a procura.
Apesar de ser muito associado às indústrias criativas, recusamo-nos a acreditar que a folha em branco é um problema apenas deste meio. Que cirurgião perante um caso mais desafiante, nunca se lançou ao papel para traçar possíveis caminhos? Que advogado, ao planear a sua estratégia nunca se rendeu ao encanto ancestral do papel e da tinta? Que engenheiro ao expor perante a sua equipa os desafios que se avizinham, nunca recorreu a esquissos despretensiosos? Seja a nossa abordagem da “folha em branco” literal ou conceptual, não deixa de ser um momento transversal a várias profissões. A forma como este momento é encarado, seja com angústia ou com ânimo, isso já é do foro pessoal e só depende de quem enfrenta o desafio.
Achámos interessante trazer esta entrevista do arquiteto porque sentimos que o olhar prático que Siza Vieira tem sobre a “página em branco”, pode ajudar a apaziguar o desassossego de alguém que a vê com alguma inquietação. No fundo, para Siza é irrelevante se o processo é angustiante ou não, o que o move é a procura de soluções para um dado problema. Quando não sabemos por onde começar, mais vale focarmo-nos no problema que temos em mãos e quase como que se estivéssemos a atirar barro à parede, pôr várias hipóteses em cima da mesa. Só o descartar de hipóteses ajuda a começar a traçar um caminho (que nos pode levar, ou não, à solução).
De uma forma quase inconsciente, é este o método utilizado no design de maquetes na Softway. Qualquer designer, que comece a trabalhar nesta casa, vai ouvir do nosso diretor criativo as palavras “começa só por fazer, depois logo se vê”. Podem parecer desoladoras de se ouvir para quem se encontra num impasse, pois dos píncaros do nosso desespero soa mais a um “desenrasca-te”, mas na realidade transportam em si o âmago daquilo que Siza Vieira falava. Como dizia Picasso: “La inspiración existe, pero tiene que encontrarte trabajando”. A verdade é que para nós tem resultado. E se para nós resulta, certamente resultará noutras as áreas do saber.
Quando não se sabe por onde começar, mais vale agarrar instintivamente no primeiro bloco com manchas de café que esteja ao nosso alcance, no primeiro lápis perdido e mal afiado que encontremos e começar a escrevinhar. Pode ser que esta amálgama de pensamentos soltos materializados em traços de carvão nos levem a algum lado. Para os nossos leitores que ainda não estão convencidos, deixamos abaixo alguns esboços, feitos pelos nossos designers e por profissionais de outras áreas, para provarmos que esta forma de abordar um problema não é só para arquitetos.
Se ainda assim, sentirem que precisam de outras ideias para se libertarem do impasse em que se encontram, poderão sempre revisitar este artigo do blog da Softway.