Directamente dos especialistas: 3 dicas para superar o estado agonizante que é o bloqueio criativo
“Creative people do a lot of trial and error and rarely know where they are going exactly until they get there.” - Scott Barry Kaufman
“Creative people do a lot of trial and error and rarely know where they are going exactly until they get there.” - Scott Barry Kaufman
Enquanto procurava inspiração para escrever o artigo do blog desta, deparei-me, ironicamente, com o artigo “How to beat writer’s block”, escrito em 2016, por Maria Konnikova para a The New Yorker. Apesar de não ser um artigo particularmente recente, não tenho dúvidas de que o leitor o achará tão relevante e interessante como se tivesse sido escrito ontem. Este “writer’s block” não é, contudo, um tema exclusivo dos escritores, atrevo-me a dizer que afecta, de forma transversal, todos aqueles que trabalham nas indústrias criativas. Por vezes, invocar as nove musas de Hesíodo, ou as Tágides de Camões não é suficiente para superar uma crise criativa.
Ao aprofundar a minha leitura sobre este tema, mais se tornava claro que a procura de inspiração não deve ser feita de um modo passivo, mas sim de uma forma activa. Parece existir um consenso entre os vários autores que se dedicaram a este tema. A noção romântica de uma inspiração que nos invade o corpo e a alma, como que por magia, despojada de qualquer tipo de iniciativa, por parte do inspirado, está longe de corresponder à realidade. Pelo contrário, encontrar inspiração pressupõe uma procura activa e consciente.
Além disso, esperar nem sempre é uma opção. Qualquer criativo, independentemente da área em que trabalha, defronta-se com prazos, expectativas e com a necessidade de cumprir determinados objectivos e projetos sob pressão. Não há nada a fazer são as “vicissitudes do ofício”. Os nossos leitores acérrimos, saberão que não é a primeira vez que nos debruçamos sobre este tema, contudo dada a sua relevância inesgotável, achámos por bem ressuscitá-lo. Desta vez há um twist, fizemos questão de ir beber, como diria o monge bizantino, João de Damasco, directamente à “fonte da sabedoria”. No blog desta semana, revelamos três conselhos de três conceituadas personalidades criativas, que procuram ajudar a superar o fatídico bloqueio criativo.
Para um autor com uma obra tão vasta e completa como a de Greene, é nos difícil acreditar que alguma vez tenha sofrido um “writer’s block”, como de resto menciona Maria Konnikova no seu artigo de 2016 para a The New Yorker. Contudo, aconteceu e, nos anos 50, Greene viu-se órfão de inspiração. A forma que encontrou para superar o impasse criativo em que se encontrava foi através de um Dream Journal. Greene registava os seus sonhos e utilizava-os como elementos catalisadoras para a sua escrita. Yvonne Cloetta, amante de Greene, ilustra na perfeição o objectivo de um Diário de Sonhos:
“If one can remember an entire dream, the result is a sense of entertainment sufficiently marked to give one the illusion of being catapulted into a different world . . . . One finds oneself remote from one’s conscious preoccupations.”.
De facto, há algo libertador nos sonhos, no sentido em que são só nossos e não estão sujeitos ao peso do mundo exterior (expectativas, juízos de valor, etc). Ao sonharmos, a nossa mente deixa de ser refém do nosso estado consciente, dando a abertura necessária para que novas ideias possam surgir.
No livro “The Creative Act: A Way Of Being”, publicado no presente ano, Rubin partilha connosco um conjunto de métodos, baseados na sua experiência de 4 décadas enquanto superprodutor, para desbloquear o potencial criativo que há em todos nós. Segundo Rubin, uma das formas para superar uma crise criativa passa por nos ligarmos à criança que há em nós e por procurarmos ambientes e experiências diferentes. Rubin sugere que a inspiração pode surgir em qualquer lugar e que o mais ínfimo pormenor pode ser um grande catalisador de criatividade.
Para Rubin, quebrarmos a rotina e sairmos da nossa zona de conforto são exercícios fundamentais para cultivamos a criatividade.
Apesar de estar familiarizada com as suas ilustrações, foi na série da Netflix Abstract: The Art of Design que conheci o artista por detrás da obra (série essa, que aconselho vivamente ver). Tudo me fascinou, desde as suas rotinas criativas, à sua técnica, mas sobretudo o seu incrível poder de abstracção. Se os nossos leitores virem a série, ficarão a saber que as ilustrações de Christoph Niemann já gracejaram as páginas das mais conceituadas revistas, como a The New Yorker, a National Geographic e de ilustres jornais como o The New York Times.
Numa entrevista de 2017 ao The Talks, Niemann refere que o melhor remédio para ultrapassar o sentimento de estagnação criativa é ignorarmos a “big idea” e concentrarmo-nos em dar apenas pequenos passos, sendo que o importante é não deixar de produzir (se é bom ou mau, para o efeito, é indiferente):
“No, I don’t need a big idea, I need 1000 small steps: 1000 steps ahead, 500 steps back, 700 steps to the right and then I will end up somewhere. So, you really have to force yourself to trust that process.”
Se nenhum destes conselhos surtir efeito, poderão sempre recorrer à célebre técnica de Camões e proclamar dramaticamente os seguintes versos:
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas, Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hipocrene.