À boleia do rasgo súbdito de inspiração que surgiu depois de ler o artigo em questão, decidimos que o artigo desta semana seria dedicado a storytelling, mas desta vez de um ponto de vista diferente: o do web design.
Há umas semanas, como sabem os nossos leitores mais atentos, a equipa da Softway deixou-se entregar ao espectáculo sensorial, arrebatadoramente imersivo, que é a peça de teatro: A Morte do Corvo. Não é por acaso que a Sábado caracteriza esta experiência como sendo “um dos melhores espectáculos que têm acontecido por estas portuguesas bandas”. No fundo, é obrigatório ir.
Para acrescentar ao entusiasmo do dia, ainda antes do teatro, tivemos a sorte de assistir a uma palestra sobre storytelling com o director artístico do espectáculo (foi num registo de uma ted talk, mas com a vantagem de sermos só 13 pessoas a assistir). Falou-nos não só da importância que storytelling tem para as marcas na definição da sua identidade, mas também como ferramenta de comunicação para criar vínculos duradouros com o respectivo público-alvo. A dada altura no seu discurso, reforçou que tudo isto só era possível porque storytelling era um acto profundamente humano. Foi aqui que me lembrei de Hannah Arendt.
De repente fui transportada para o anfiteatro I da FLUL, tão antigo quanto desconfortável, onde o peso do seu ilustre passado se fazia sentir no ar e nos ombros de todos os que sentavam naquelas bancadas concêntricas de madeira, escurecida pela idade. Estava numa aula de história contemporânea, com uma postura relativamente passiva, em que se discutia as consequências da teoria da narrativa histórica, quando fui introduzida às reflexões de Hannah Arendt sobre o poder e o papel de storytelling na esfera política e social de uma dada sociedade. Arendt defendia que a narração de história desempenhava um papel crítico na vida humana, ajudando-nos a dar sentido às nossas experiências e a conectarmo-nos uns com os outros.
Na era digital em que vivemos, storytelling é mais importante do que nunca. Num mundo em que somos bombardeados com informação uma boa história é essencial para cativar a atenção de um potencial consumidor, especialmente em ambiente web. Na esfera do web design, recorremos também a storytelling, por meio de elementos de design, com o objectivo de proporcionarmos uma experiência única e memorável ao utilizador. Seguem-se alguns exemplos abaixo:
- Definição da narrativa: Qual é a história que a marca quer contar? Qual é a sua missão e visão; quais são os seus valores; qual é a sua unique selling proposition? Pensar no utilizador como sendo o herói da história: quais são as suas necessidades, os seus desafios e os seus objectivos?
- Escolha e/ou criação de elementos visuais: Elementos visuais, como imagens, vídeos, ilustrações, e outros elementos gráficos, como a tipografia são essenciais para comunicar uma narrativa e evocar emoções nos utilizadores. São a personificação da mensagem que queremos transmitir ao nosso público-alvo e por isso devem ser escolhidos com ponderação.
- Criação de Conteúdo: Embora os elementos visuais sejam importantes para criar uma narrativa, o conteúdo é crucial para comunicar a mensagem de qualquer marca. Por exemplo, uma frase impactante pode ser o suficiente para captar a atenção do utilizador e convencê-lo a aprofundar o seu conhecimento sobre a marca. Um bom slogan pode comunicar sucintamente a missão e os valores da sua marca.
- Coerência com a identidade da marca: é crucial que o design do website esteja alinhado com a história geral da marca que se trabalha. Por outras palavras, tudo, desde o tom e estilo do copy, à paleta de cores e à tipografia, deve estar em harmonia com a identidade da marca. A coerência é fundamental quando se trata de contar a história de uma marca e deve ser transversal a todos os canais de marketing.
Sim, podíamos ter ido directos ao assunto, mas seria no mínimo paradoxal e desolador, que num artigo sobre storytelling, fosse logo tudo desvendado aos nossos leitores.