Não há dúvida de que caminhamos para sites cada vez mais minimalistas, onde o white space impera. Mas será que esta obsessão pelo minimalismo, tão característico do nosso zeitgeist, se trata de uma opção meramente estética ou será que existe, também, uma componente funcional associada a esta escolha?
De onde surge este lema “less is more”? A condição do Homem contemporâneo, pressupõe uma arrogância subjacente, de que, de alguma forma, somos muito mais evoluídos do que os nossos antepassados, contudo, a nossa evolução não é mais do que um produto de conhecimento herdado, acumulado, como estratos geológicos, e transmitido de geração em geração. Vemos os primórdios deste conceito, na cultura clássica. Já Sócrates, acreditava que o segredo da felicidade se encontrava, não na procura de mais, mas em ser capaz de apreciar as coisas mais simples da vida. Também Epicuro, argumentava que a busca pela riqueza excessiva poderia trazer mais dor e sofrimento do que felicidade, sendo que a verdadeira felicidade residia numa vida simples e modesta. Percorrermos uns séculos até ao ano de 161 d.c, e deparamo-nos com o imperador romano, Marco Aurélio, um ávido defensor de que uma vida virtuosa e gratificante passava por se viver de um modo simples e comedido, desprovido de bens materiais.
Fazendo a ponte do campo da filosofia para a esfera do design, o célebre arquitecto Ludwig Mies Van der Rohe, utilizou a expressão “Less is more" para descrever a sua visão estética. Esta abordagem minimalista pressupõe que um bom design é simples, claro e despojado de tudo o que é supérfluo, e, como seria de esperar, o web design não é uma excepção. A eficácia de um web design mede-se pela experiência do utilizador. Enquanto web designers, queremos que o percurso do utilizador seja o mais fluído possível e que as expectativas não só sejam cumpridas, como superadas. É neste sentido que o white space se pode revelar um verdadeiro aliado: a clareza que atribui às páginas facilita o percurso do utilizador, incentivando-o a focar-se apenas no que é essencial.
Seguem-se três razões para se utilizar white space:
- Um clássico, nunca passa de moda.
O que é verdadeiramente bom, resiste à prova do tempo e o minimalismo é uma aposta segura. Foquemo-nos no exemplo do pavilhão alemão projectado por Mies Van der Rohe para a Feira Universal de Barcelona: apesar de emanar contemporaneidade, remonta a 1929. O mesmo poder-se-á dizer da célebre cadeira Barcelona, reproduzida incessantemente ao longo de décadas, dada a procura sôfrega. No fundo, um web design que se alie a uma estética simples, sóbria e clara, “permanecerá moderno” durante muito mais tempo.
- Ajuda a organizar visualmente o conteúdo.
Segundo o princípio da proximidade, “items close together are likely to be perceived as part of the same group”. Aplicando este princípio ao web design, o utilizador quando vir, numa dada página, um conjunto de elementos, dispostos com uma proximidade considerável entre si, vai assumir que existe algo que os une. Por outro lado, elementos que estejam visualmente separados não correm esse risco. O white space é útil, na medida em que estabelece uma organização visual do conteúdo, de forma a que a relação entre os elementos seja imediatamente perceptível pelo utilizador. A regra é simples: usar menos white space em elementos que pertencem ao mesmo grupo e mais white space em elementos que pertencem a grupos diferentes.
- Possível antídoto para o princípio de Hicks.
Um estudo realizado pela Microsoft em 2015 revelou que o tempo médio de atenção de um utilizador é de 8 segundos, o que significa que para um website ser eficaz deve conseguir transmitir a mensagem pretendida ao utilizador dentro deste espaço de tempo. Caso contrário, corre o risco de perder um potencial cliente. Segundo o princípio de Hicks: “The time it takes to make a decision increases with the number and complexity of choices.” O white space ajuda a dirigir a atenção do utilizador num determinado sentido, para que chegue ao destino desejado, sem rodeios, nem obstáculos (por exemplo, pode ser útil para destacar calls to actions). Por outras palavras, quanto mais claro for o caminho do utilizador, maior será a taxa de conversão do seu website.
O utilizador deve assumir o protagonismo em qualquer projeto de web design. Enquanto web designers, temos como objectivo principal criar uma experiência agradável para o utilizador, ajudando-o a encontrar o que procura e a realizar as tarefas desejadas. O white space é um verdadeiro aliado do web design, uma vez que associada à sua componente estética acresce-lhe uma componente funcional, revelando-se uma ferramenta extremamente útil para os web designers.