Esta semana, a inspiração surgiu de um lugar inesperado: uma MasterClass com o célebre arquiteto Frank Gehry. Inesperada, porque quando me lancei a assistir a esta aula, não estava à espera de encontrar um capítulo dedicado à importância da simbiose entre o processo de criação e a envolvência do cliente (“Creating with your client”). Por fim, o fator surpresa culminou, quando me apercebi de que aquilo que Frank Gehry dizia se aplicava na perfeição à realidade do desenvolvimento de websites.
Frank Gehry é conhecido pelos seus designs pouco ortodoxos, volumétricos, até esculturais, que esbatem a fronteira entre a arte e a arquitectura. Entre as suas obras mais conhecidas, encontramos o Guggenheim de Bilbao, o Walt Disney Concert Hall em Los Angeles, Neuer Zollhof em Dusseldorf, a Dancing House em Praga, entre outras, incluindo a sua própria casa em Santa Monica, na Califórnia. Gehry é exímio em criar formas inesperadas e retorcidas que quebram as convenções do design de edifícios.
Depois desta breve introdução, vamos ao que realmente vos trouxe aqui: as dicas para criar com o cliente segundo Frank Gehry.
Entender as necessidades do cliente
Quando comecei a assistir à MasterClass, a primeira ideia que me prendeu foi a mais-valia de uma relação próxima e de confiança com o cliente para quem se está a trabalhar. É vital para o sucesso do projeto, seja ele de arquitetura ou um website.
Gehry começa por focar a importância de comunicar bem com os clientes e de incluí-los em todas as etapas do processo de criação e conceção. Na sua opinião, os projetos desenvolvidos com este cuidado irão ganhar uma lógica e uma personalidade únicas, que vêm deste processo simbiótico entre as ideias do cliente e as nossas.
“I think of it as steering a boat, your hands on the tiller, it’s subtle, when you’re sailing it varies constantly, and things happen, and you have to be open to it”.
Para nos explicar melhor, Gehry dá-nos o exemplo de Michelangelo, muito conhecido pela escultura Pietà e pela pintura no teto da Capela Cistina, no Vaticano. Para estes trabalhos, Michelangelo teve como base as ideias transmitidas pelo Papa Júlio II. Ou seja, teve em consideração o que era pretendido pelo Papa para cada uma das obras e o enorme valor acrescentado que levou ao resultado que todos conhecemos em ambas, foi Michelangelo tê-las feito, ainda assim, à sua maneira.
“During that period” (no início de cada projeto), “we sit and sketch, I mean, I can help it, I just always have a pen or pencil in my hand, some blank paper, and I’m thinking with them out loud, … and starts to develop a story that inspires a kind of visual response”.
Respeitar o budget
Sabemos que todo o projeto tem um budget associado, que na verdade não é mais do que o quanto o cliente aceita pagar por determinado projeto. Gehry diz-nos que este valor não é apenas calculado com base em números, de quanto o cliente pode pagar, mas também do que este projeto significa para si, o que está disposto a pagar.
Por isso é tão importante escutar o cliente, para se conseguir entender o que é pretendido, até quanto se pode ir e assim otimizar os recursos para que, dentro desses limites, se tenha a capacidade de superar as suas expectativas.
“I think you have to stay real with your economics and their economics all the way through”.
Experimentar a nossa ideia, desenvolver mood gráfico
Depois de estabelecer a confiança com o cliente e de balizar o projeto financeiramente, Gehry diz-nos que o próximo passo é começar a partilhar caminhos concretos para o projeto.
Em arquitetura, significa apresentar as maquetes, onde se espelha o projeto o mais real possível, para dar a oportunidade ao cliente de sentir o espaço e assim ter a capacidade de entender se aquilo que está a ser proposto vai de encontro ao que pretende.
No nosso caso, significa mostrar um mood gráfico para a sua nova presença digital, para que o cliente entenda o nosso racional e se reveja no storytelling que estamos a propor.
Gehry acredita que é durante este processo que se percebe como se vai trabalhar, que caminho se vai seguir e, mais importante, qual a reação do cliente a este caminho. É nessa reação que se vai tendo as respostas do cliente às principais questões do projeto.
Para ilustrar este tema, Gehry conta-nos este episódio “(…) because they’re looking at the land too, and they’re saying you know, you love that view, Frank, but that´s not why we bought this house. We bought this house because we want a lot more privacy, and we want the view to be like a painting that you see only from one room.
Gehry acaba a aula reforçando que, uma vez ajudando e educando o cliente a tornar-se mais conhecedor do processo e do projeto, teremos a oportunidade de explorar soluções gráficas e técnicas, para, em conjunto com o cliente, conseguirmos elevar ao expoente máximo o projeto que nos é confiado!
I don’t like just making a sculpture and say, OK, here it is, take it or leave it, and move in”.
Foi muito enriquecedor ouvir Frank Gehry, um arquiteto de renome, que trabalha há tantos anos para clientes em todo o mundo, com culturas e backgrounds tão distintos, e tomar consciência de quanto cada ensinamento se aplica àquilo que é a gestão de um projeto na Softway! Obrigada Gehry!